segunda-feira, 9 de março de 2015

Catarina Martins em Neves-Corvo - ronda de contactos com trabalhadores, instituições e populações no distrito de Beja. (09/Mar/2015)




Sob convite da Comissão Coordenadora Distrital de Beja, a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins,  realizou uma ronda de contacto com as populações e instituições e trabalhadores, cuja organização esteve a cargo das Comissões Concelhias de Castro Verde e Beja, assim como do Núcleo Concelhio de Almodôvar.

Esta ronda teve início na mina de Neves-Corvo, concessionada à Somincor, S.A., com o contacto e recolha de assinaturas para a petição Pela Desvinculação de Portugal do Tratado Orçamental, junto dos trabalhadores que laboram no couto mineiro e onde também foi concedida uma entrevista para a rádio local: Castrense FM. (Registo sonoro e transcrição abaixo)







Nota:

Por falha técnica, o registo sonoro iniciou-se algum tempo depois de iniciada a entrevista. Assim a transcrição inicia-se com a porta-voz do BE - Catarina Martins; a responder ao jornalista sobre a presença do Bloco de Esquerda naquele local e sobre o que motiva a recolha de assinaturas contra o Tratado Orçamental.


"(...)

Catarina Martins – BE:

Os tratados são assinados sem que exista um único referendo. E esse tratado [Orçamental] impõe que em Portugal se corte, a cada ano que passa, 5.800 milhões [Euros] do Orçamento de Estado. Isto é o equivalente a tudo o que gastamos em educação num ano. E as pessoas, que viram como este ano as escolas já não abriram a tempo, como os hospitais já não responderam às necessidades. As pessoas têm as pensões cortadas, percebem que não se pode cortar mais, naquilo que é essencial: a educação, a saúde, a proteção social. E portanto, temos estado pelo país a recolher estas assinaturas [petição Pela desvinculação de Portugal do Tratado Orçamental], para que as pessoas saibam porque é que a austeridade lhes está a ser imposta, e que saibam que está na sua mão, também, que Portugal deixe de estar imposto a esta austeridade, e possa ter uma outra alternativa.
Estar aqui hoje, [Neves-Corvo – Somincor] é muito importante. Esta é uma empresa com tantos trabalhadores, tão importante para a economia e que é preciso mobilizar todas estas pessoas. Porque são estas pessoas que aqui trabalham, como em todo o país, que constroem a nossa economia, que podem construir o nosso futuro, mobilizá-las todas, porque a austeridade não tem de ser permanente e pode existir uma alternativa.


Rui Rosa – Castrense FM

E qual foi a recetividade dos mineiros?


Catarina Martins – BE:

Ah! Tivemos uma muito boa recetividade, recolhemos uma série de assinaturas. As pessoas compreendem.
Em Portugal, toda a gente percebe que a austeridade foi uma grande mentira, que nos criou tantos problemas. Porque a austeridade vinha, dizia-se, para resolver o problema da dívida pública e, de facto, a dívida pública está cada vez mais alta, e [para] o que a austeridade serviu foi para negar direitos às pessoas: direitos sociais, laborais, ambientais. E portanto, eu julgo que há uma grande perceção no país de que não pode ser mais assim. Já basta de cortes, e que é preciso que o nosso país esteja de cabeça levantada na Europa e que possa ter emprego, crescimento, salários, dignidade.

Rui Rosa – Castrense FM:

Aproveitando o facto de estar aqui consigo, uma última questão: o Alentejo tem uma empresa desta dimensão, o Alentejo tem um clima, que é aquele que se pode constatar já em pleno mês de Março, o Alentejo tem tantas condições para ser uma região, quiçá e há mesmo quem defenda que tem condições para ser uma região sui-generis no país, porque é que quando se olha para o Alentejo se vê despovoamento e mais despovoamento, pobreza, envelhecimento. O que é que é necessário para invertermos isso?

Catarina Martins – BE:

Tem-se olhado para o país com duas perspetivas profundamente erradas! A primeira é uma perspetiva centralista que não pensa o desenvolvimento de todo o território. Pensa na concentração de recursos na zona de Lisboa e bem pouco mais, mas que tem vindo a despovoar o território. E, esta tem muitos anos e é profundamente errada. E a segunda [perspetiva], igualmente nefasta, tem sido a visão de que o país só deve fazer o que os mercados financeiros deixarem. Só deve fazer o que a banca deixar. E, em vez de se ter um plano estratégico para o país, a longo prazo, andamos a gerir o país a curto prazo ao sabor do que a finança manda. E portanto, o que é necessário neste momento é que no país haja uma visão de crescimento, de investimento. O Alentejo tem tudo para ser uma zona de grande produção e de grande desenvolvimento, o que é preciso é [que haja] vontade política e isso depende também de que as pessoas todas façam ouvir a sua voz e a sua exigência para um outro modelo para o nosso país. Um modelo que respeite todo o território, toda a população, e um modelo que tenha, no longo prazo, o desenvolvimento, a criação de emprego, no centro do que devem ser as decisões políticas do país. (...) “

Seguiu-se o almoço, na aldeia de Corvo, adjacente a esta unidade industrial, num estabelecimento típico, para depois prosseguir o programa desta ronda, que incluiu a visita a uma instituição de apoio social em Beja e o contacto com a população do bairro social da Esperança.



Visita a Instituição Apoio Social em Beja
Contacto com população no Bairro da Esperança